Um sapatinho vermelho de cada vez, depois as meias compridas, os joelhos gêmeos em delicadeza, e a barra rendada do vestido cor de pele amarelada. Quem via até pensava que o vestido era uma decepção na paisagem, destoando dos sapatos escarlates vibrantes, das meia tão brancas e novas... o que não se via, era que o vestido era mais que um vestido encardido, era um companheiro solitário. Todos os dias seu tecido puído corria segurando o vento pra que não batesse com força na barriga da menina; segurava na barra enrolada mais de cinco carambolas que a menina devorava devagar na sombra do cajueiro, era um caju, uma carambola... o caju não ia na barra, pra não dar noda; No traseiro uns seis ou sete fios puxados denunciavam as tardes afofando o chão de terra empedrada pra menina poder descansar; e no final de toda tarde as mangas, uma das poucas partes que ainda conservava maciez, serviam de mãe e dava colo pra cabeça pesada da menina, acariciando as bochechas molhadas, acolhendo suas lágrimas mesmo sem entender o porquê. Era um companheiro solidário, aquele vestido... destoava mesmo do resto do mundo.