Experimento Europa – Parte 2: Alemanha/Holanda/Bélgica

Os últimos dias foram bastante atarantados (e quentes!), me lembrei que tenho tarefas de madrinha ainda pra cumprir antes do casamento, e tirei as noite pra me dedicar a isso. Durante os dias tive a oportunidade de andar mais por Aachen, ir a uma feira de antiguidades e variedades cheia de coisas diferentes de todos os tipos, além de fazer curtas viagens e conhecer alguns lugares bem legais: Munchau - ainda na Alemanha, cidade da mostarda e ponto turístico por preservar a arquitetura de uma Alemanha bem tradicional, parecem casinhas de boneca; O outlet da Holanda - compras, compras, e batata frita com molho de num-sei-nem-o-que-com-alho; Brugge e Bruxelas – na Bélgica, duas cidades lindas de casas antigas e prédios que têm tantas estátuas e esculturas nas paredes que um dia inteiro olhando pra ele você não conheceria todos os rostos cravados lá.
Comi Cranberries (menos um na minha lista), e waffle de verdade na Bélgica (o cheiro é melhor do que o gosto, mas ainda assim é muito bom).
Quem me conhece sabe que sempre gostei de estudar a segunda guerra mundial, e estou vendo por aqui coisas da época que convivem na paisagem alemã e que pra mim são o máximo! Fui a uma festa em um BUNKER da segunda guerra, é uma boate dentro de um BUNKER, não é incrível?! Também vi nos campos ao redor de Aachen blocos de concreto que foram colocados para tentar (tentativa fracassada) barrar os tanques de guerra na época!
Enfim estou vendo e vivendo muitas coisas inéditas pra mim. Vi vacas holandesas na Holanda (onde elas são conhecidas apenas como “vacas”) e bebi cerveja alemã na Alemanha (onde são chamadas só de “cerveja”)!
Por hoje:
O que há de mais estranho foi ir a uma festa, dançar os clássicos da minha adolescência (era uma festa tributo aos anos 90) dentro de um BUNKER DA SEGUNDA GUERRA!!!
O que há de mais legal foi ir a uma festa, dançar os clássicos da minha adolescência (era uma festa tributo aos anos 90) dentro de um BUNKER DA SEGUNDA GUERRA!!! Na verdade, tudo está sendo bem legal!
O que há de chato ainda a falta do Fred por aqui, e a gripe que sobrou pra mim dos dias de frio que precederam esse calor danado que tá fazendo agora!

Experimento Europa: Parte 1 - Alemanha

Minha entrada na Europa não foi lá meu momento mais glamuroso: Aeroporto de Lisboa, após um vôo que durou cerca de 8h, mal me preparando para embarcar em mais 4 horas pelo céu europeu. Descabelada, vestindo blusa e cachecol que não cabiam mais na mala, e uma “pochete” daquelas de turista que a gente esconde dentro da roupa fazendo buchinho protuberante. Às últimas 8h se passaram na total escuridão do céu, a exceção de um brilho fraco no horizonte que eu localizei no GPS do avião como sendo parte das Ilhas Canárias. Uma de minhas paixões estava abordo, o cinema! Vários filmes estavam disponíveis, mas depois de assistir e re-assistir a maioria deles, você descobre que divertido mesmo é assistir o cana do GPS e acompanhar a trajetória do vôo. Essa atividade ficou mais emocionante quando vi que passávamos bem perto da África, e fui reconhecendo no mapa que nunca havia estado assim tão perto do Deserto do Saara, por exemplo! Confesso que por um minuto cheguei a espremer os olhos no esforço de buscar um pedacinho do continente... ilusão que veio com o sono, eu acho. Sono que se fez presente, mas não marcante o suficiente pra me roubar mais que meia hora de vigília. Resultado disto chegou aquele ponto máximo de toda viagem de avião em que você pensa “Não agüento mais... mas pelo menos está chegando!”, então coloquei no bendito canal do GPS e descobri ainda restavam 3 (TRÊS) horas de viagem!!! Me levantei, andei, dei até uma reboladinha pra lubrificar as juntas e fazer a Jéssica (que tampouco havia conseguido dormir) dar umas risadinhas e se juntar à minha rotina de exercícios... muito mais o exercício de “não estou nem aí para o que o resto do mundo está pensando da minha reboladinha”, do que um exercício físico em si. Enfim, entrei na Europa sem drama e com uma barulhenta carimbada no passaporte. Daí pra frente mais vôos; uma revista desaforada na bagagem de mão por conta de uma caixa de aparelho ortodôntico; um sanduíche de presunto, queijo e cogumelos (wtf?!); muito sono lutando contra minha vontade de ver umas belas paisagens de montanhas congeladas no norte da Espanha; e finalmente chegar na Alemanha, rever a Bia, o Andreas, conhecer sua casa e sua cidade (que por sinal é toda feita de prédios antigos e casinhas coisa-fofa-com-flores-na-janela!). Tem coisinhas minúsculas que gostaria de fazer aqui porque sempre ouvi falar e nunca vi nem comi, uma delas é comer todas as “berrys” que encontrar por aqui, sabe como é, sempre ouvimos que isso e aquilo é de blueberry, blackberry, cranberry, raspberry... nunca comi a maioria dessas frutinhas nem sei diferenciá-las! Então hoje comi blueberry – que me lembrou jabuticaba, apesar de ninguém concordar comigo por aqui - e raspberry - que é framboesa. Muitas novidades, e ainda muitos dias pela frente.
Por hoje:
O que há de mais estranho é ser “a pessoa que fala esquisito” no meio de todo aquele falatório INCOMPREENSÍVEL! Além de estar em um verão que faz 13 graus (ai que frio)!
O que há de mais legal é o reencontro com a Bia - que por sinal, fez um jantar delicioso – e poder ajudar mais de perto nos preparativos finais do casamento! Além da expectativa de conhecer ainda muitas coisas por aqui!
O que há de chato é o cansaço e as tonturas que ficaram depois de 24h de turbulências! Além do Fred não estar, fisicamente, aqui comigo (isso é chato por hoje e pelo resto da viagem)!

Dilemas de batalha

Sempre tive em mim (em alguns momentos mais gritante do que em outros), essa sede de mudança, uma vontade de ajudar o próximo e transformar o que há de ruim em nossa sociedade. Hoje eu sinto falta do tempo em que eu matava minha sede fazendo festa em um orfanato, recolhendo doações para um abrigo, ou mesmo organizando pequenas manifestações da minha indignação sobre assuntos específicos, como camisetas anti-preconceito.
Hoje a indignação ferve dentro de mim, e eu simplesmente não sei nem por onde começar! É como estar em uma emboscada de saídas contraditórias, pra onde quer que eu corra me parece sempre uma ilusão de mudança, caminhos sorridentes que se encerram (para os que insistem em continuar a desvendá-lo) na triste constatação de que nada foi feito, e as mazelas estão ali observando e rindo daqueles que tão satisfeitos foram retirados do campo de batalha dispersos em falsos, ou menores, alvos criados para tal função.
Sinto-me sem esperanças, e ao mesmo tempo persistente na procura, como um herói de guerra dos filmes norte-americanos que não desistem nunca de um companheiro ferido.
Para mim tem sido como estar andando de maneira errante por um labirinto cheio de armadilhas, e a qualquer momento posso prender meus pés no buraco do conformismo, minhas mãos nas amarras da impotência, minhas palavras na mordaça da alienação e – o que mais me amedronta – meu coração no escuro da intolerância.
E é isso que dá persistir sem esperança... é perseguir uma solução que não se sabe qual é, procurar uma saída sem se ter idéia de onde encontrá-la.
Enfim, alguma esperança deve ter resistido em mim, afinal ainda estou em pé, com muitas dúvidas, com muitos temores... Mas insisto em não levantar as mãos à cabeça e me entregar ao desespero, e sim respirar fundo, bater no peito e seguir lutando.

Largartas, aranhas e mais...

Estive pensando que nessa vida todo mundo nasce lagarta. A gente lagarta conhece o mundo, aprende a viver no mundo, então chega a hora de aprender a viver em você mesmo e aí a gente se fecha num casulo e sai de lá borboleta. Há de ser assim, mas tem horas que a gente esquece que é lagarta e se sente outro bicho qualquer... Tem vez que eu me sinto uma aranha morta. Você já viu uma aranha morta? Aquele monte de perna se junta envolta do corpinho da aranha que vira um pontinho de nada. E eu me sinto assim, uma aranha com suas tantas pernas enroscadas ao redor do corpo, sem distinção entre um e outro, igualzinho minhas tantas idéias se enroscando sobre meus sentimentos na teia de idéias e sentimentos dos outros.
E como é terrível se sentir uma aranha morta tentando ajudar alguém a virar borboleta...

De noite

Correr e sentir o vento ardendo no rosto.
Sentir um cheiro delicioso e a boca enchendo de água.
Pedras e algodão me lembrando que existe minha sola do pé.
O sangue escorrendo nas unhas.
Uma boca cheia de dentes.
Ser outra pessoa.
Abraçar alguém que amo.
Rever quem minha memória teimava em relembrar.
Conversar com desconhecidos.
Nadar.
Cair.
Voar.
Caminhar.
Caminhar.
Caminhar...
Todo dia quando acordo pesa no meu estômago a saudade dos mundos que acabei de conhecer.

Iceberg

Era possível ouvir o gelo se partindo. Um coração frio e rígido como uma enorme pedra de gelo, um iceberg... na verdade ela sempre foi mais iceberg que gente, escondia mais da metade do que era na profundeza de dentro, por de trás de uma superfície bonita e pontiaguda. Olhando de fora realmente não dá pra saber como era extraordinária por dentro, e ninguém fazia mesmo questão de chegar mais perto daqueles picos afiados, ameaçadores. Sempre que alguém conseguia tocá-la, no entanto, ela se derretia aos poucos escorrendo em lágrimas pouco salgadas. Fugia. Mas dessa vez foi diferente, ela não conseguiu sair correndo, seus pés endurecidos se recusaram a fazer mais esse esforço sem sentido, mais uma fuga sem remédio, porque as pessoas no mundo insistem em chegar mais perto... as vezes a gente pensa que não, que estamos abandonados em redomas de aço nesse mundo capital, mas a verdade que ela via na prática é que existe uma coisa nos humanos, seja curiosidade ou cuidado, que não cansa de tentar ficar junto. Sem conseguir fugir, de tão perto, de tão perto, de tão perto nasceu uma rachadura na casquinha da superfície, e foi rachando e rachando até que todo o gelo nela virou pedacinhos, e o humano que havia dentro daquele bloco gelado foi esquentando e derretendo o que restou. Dessa história só sobrou a menina que foi iceberg, o outro que ficou tão junto, e um copo de raspadinha.

Bicho-de-cabeça

Ela, invariavelmente, em algum momento se perguntava se era normal ser tão diferente assim... Diferente do pensamento comum... não do pensamento em si, mas da maneira de pensar, da forma como os pensamentos se encaixam na cabeça. – Na minha cabeça, é um milhão de bichinhos ligeiros que correm com pés pequenos e pouco equilíbrio...

- Bichinhos de pé pequeno? Não é piolho, menina?!

- Bichinhos ligeiros? Isso é coisa ruim... coisa do encardido, ligeiro e esperto na cabeça da gente...

- Pouco equilíbrio? Interessante... (sempre me pareceu desequilibrada mesmo...)

- Um milhão? Deixe de ser exagerada...

É... ninguém entendia os bichos da cabeça da menina, nem seus pés ligeiros, nem seu pensamento incomum. Ela, então, invariavelmente, se perguntava se era normal ser tão diferente assim... diferente do pensamento dos outros, não do pensamento em si, mas da forma como os bichos de cada um se moviam nas suas cabeças.